Geração Tecnológica

Há uns bons tempos, passou por mim um vídeo no Instagram de uma americana que pedia ao filho para fingir ligar ao Pai. O menino, pequenino, esticou a palma da mão e encostou-a ao rosto: “ Hey Daddy”. A mesma volta ao ecrã e pergunta o que aconteceu ao clássico símbolo onde esticamos o polegar e o dedo mindinho. Claro, o clássico, o polegar encostado ao ouvido, o mindinho apontado para a boca! Os dedos dobrados representavam os botões. Durante uns tempos andei a pedir a crianças e pré-adolescentes que fingissem uma chamada telefónica – senti-me velha e desatualizada. Já não chega o scroll às profundezas cada vez que tenho de colocar o ano na data de nascimento em qualquer aplicação… agora isto.
A primeira “vítima” foi o meu primo. Uma criança de 7 anos na altura, que gentilmente esticou a palma da mão e deslizou o dedo sobre ela em busca do numero para quem ia ligar (se é para o drama, o povo vai com tudo).
Lembro-me que nesse dia, depois de jantar com uma amiga, nos despedimos lado a lado, cada uma no seu carro, e eu olhei para ela e fiz o gesto tradicional de telefone enquanto lhe dizia: liga quando chegares. Fiquei feliz, porque trintona como eu ia ter percebido a mensagem pelo gesto sem eu ter de verbalizar coisa nenhuma.
Conduzi para casa a pensar que se alguém à distância encostasse a mão ao rosto com a intenção de simular uma chamada telefónica eu ia achar que a pessoa se sentia cansada e precisava de se deitar.
Há umas semanas, num almoço em casa da sogra, acabámos a refeição rodeados de álbuns e fotografias antigas em busca de parecenças do nosso filho com familiares paternos. O meu namorado levanta-se e aponta-me para uma imagem com alguém sentado no fundo de uma sala, pouco nítido.
Qual não é o meu espanto quando ele junta os dois dedos sobre a imagem e tenta aumentar a fotografia do álbum como faria numa tela de um ecrã. Dei por mim a pensar em como facilmente teria feito o mesmo e como nos adaptamos a toda esta realidade com facilidade. Senti-me um bocadinho menos lerda nesse dia.
Passou no dia a seguir, quando precisei de um guião para aprender a fazer printscreen no telefone novo e foi o meu primo que me ensinou.
Não sou da geração tecnológica e digital, mas represento o seu início. Não sou uma verdadeira técnica operacional digital mas fui engenheira de obras da minha casa da arvore e esconderijos, fui enfermeira de bonecas, artista das mesas com toalha de papel em restaurantes e uma verdadeira detetive no jogo das escondidas. Infância boa a minha, deste lado do ecrã.